Por trás de um grande carro há sempre uma grande mulher
A História sobre qual é o primeiro “carro” é longa e cheia de personagens, na verdade há quem diga que é tudo uma questão de opinião e ponto de vista, mas hoje vamos falar de outra coisa.
Um resumo da invenção do carro
Esquecendo aqui um bocado o carro a vapor e o carro elétrico, muita gente atribui a invenção do automóvel ao inventor Siegfried Marcus, que por alturas de 1870 terá posto um motor de combustão interna numa carroça. E durante muitos anos esta foi a História, mas como Marcus tinha descendência judaica a sua história acabou por ser apagada no período Nazi e substituída pela de Karl Benz. No entanto, é inegável que Karl Benz foi na verdade o criador do primeiro automóvel de produção, pois no total conseguiu produzir 25 unidades do seu Benz Patent-Motorwagen.
A nossa heroína
Mas a história que vos trazemos hoje é a de Bertha Benz, nascida em 1849 e filha de um carpinteiro que tinha enriquecido graças ao seu trabalho árduo e a bons negócios imobiliários. Nesta época as mulheres não tinham acesso ao ensino superior e mesmo o acesso ao ensino era reservado às famílias ricas. Graças a isso Bertha pôde ir à escola, onde se interessou pela ciências naturais, uma paixão nascida das histórias que o seu pai contava sobre o funcionamento das locomotivas. Mas nem tudo era fácil, e reza a lenda que depois de ter visto “Infelizmente mais uma rapariga” escrito pelo seu pai na Biblia lá de casa aquando do seu nascimento, Bertha ficou determinada a mostrar ao mundo que o sexo feminino também é capaz de grandes coisas!
Amor e coragem
Bertha Ringer era então não só proveniente de uma família rica, como também atraente, inteligente e com presença social. Escusado será dizer que não faltavam pretendentes, mas foi numa excursão organizada pelo clube Eintracht a 27 de junho de 1969 que Bertha se apaixonou por um jovem (e pobre) engenheiro chamado Karl Benz. Apesar da sua aparência estranha e descuidada, a jovem ficou encantada com as ideias daquele rapaz, especialmente a de uma carroça sem cavalos em que ele estava a trabalhar.
Ignorando tudo o que o seu pai lhe dizia sobre as dificuldades que iria passar ao não escolher um “bom partido”, Bertha investiu todo o seu dote para formar a empresa Benz ainda antes do casamento. Os anos iniciais foram muito complicados, pois apesar de Karl ser uma espécie de génio desvalorizado, o talento para o negócio não era um dos seus fortes. A família crescia e as dificuldades também – passaram fome, necessidades e eram socialmente ridicularizados. Mas de todas as vezes que o seu marido entrava em desespero, era Bertha que lhe dava coragem para continuar, e apesar de toda a miséria, ela nunca o abandonou.
O motor da família
Karl desenhava e produzia motores a gasolina, aliás foi ele um dos primeiros a patentear o motor a gasolina a dois tempos. Enquanto isso, o jovem engenheiro ia tentando criar o seu “carro motorizado” para o qual finalmente conseguiu registar uma patente a 29 de Janeiro de 1886. Ainda que as suas vendas de motores fossem um sucesso, o seu carro motorizado parecia não estar a suscitar grande interesse no público – nem mesmo com uma apresentação no Ringstrasse de Mannheim, a VCI de lá do sítio, no dia 3 de julho de 1886.
“Um invenção revolucionária e ninguém quer saber?!” Para Bertha, a esta altura já mãe de 5 filhos, esta ideia parecia inconcebível. É então que esta Mulher decide pegar no carro sem o marido saber e juntamente com os seus dois filhos foi fazer uma viagem de 194 quilómetros para mostrar ao mundo o que o automóvel conseguia fazer.
Armas de mulher
Como seria de calcular, aqueles caminhos eram de cavalos e carroças, não os mais adequados para um carro, mas nem mesmo assim ela hesitou. Na verdade este nem era o pior dos problemas, mas ela arranjava solução para tudo. Quando uns fios ficaram descarnados, ela usou uma liga das suas meias; quando uma das válvulas ficou entupida ela usou um alfinete de chapéu; e quando ficou sem gasolina ela empurrou o carro vários quilómetros até à aldeia mais próxima.
Detergente de limpeza para o monstro!
E como devem imaginar, bombas de gasolina não existiam na altura, então ela chegou a uma drogaria e pediu 10 litros de ligroína, uma espécie de liquido de limpeza feito a partir de uma mistura de hidrocarbonetos extraídos do petróleo bruto. Resposta do farmacêutico: “um litro de detergente deve chegar para limpar as manchas do seu vestido, ó menina.” Mas ela insistiu e disse que não queria lavar nada, ela queria comprar o stock todo de ligroína para reabastecer o seu Motorwagen. Não havia postos de abastecimento, mas ela fez daquela drogaria em Wiesloch o primeiro posto de abastecimento do mundo. E ela seguiu caminho até ao seu destino, com algumas pessoas a temer este “monstro fumegante” e outras a pedir para dar uma volta.
Finalmente o reconhecimento
Após décadas de pobreza e falhanço, a empresa de Benz estava finalmente no bom caminho, e tudo graças ao golpe de publicidade de Bertha Benz. Ainda foram precisos alguns anos para que o automóvel fosse aceite pelas massas, mas no século 20 este viria a ser um dos avanços culturais mais importantes da História. E tudo graças ao esforço da família Benz. Especialmente Bertha, que com o seu dinheiro, bravura e crença inabalável, fez com que esta história fosse uma história de sucesso. No seu 95º aniversário foi nomeada senadora honorária da Universidade Técnica de Karlsruhe, um sítio que nunca a deixaram frequentar por causa das constrições da sua época. Faleceu dois dias depois, em paz, como uma mulher que não deixou que nada nem ninguém a dissuadisse das suas visões.
A viagem não passou despercebida na imprensa. Karl e Bertha Benz Karl e Bertha Benz, a filha Klara e Fritz Held, numa excursão em 1894. Klara Benz, a filha do casal. Um Benz Patent Motor Car “Model 3” construído em 1988 pode ser visto no Museu da Ciência em Londres Jutta Benz, orgulhosa dos seus bisavós.
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