Carro novo, vida nova?

Antes de começar este artigo devo avisar os caros leitores, e até pedir desculpa em antecipado, porque se já viram algum dos vídeos do Historias Sobre Rodas devem ter notado que não trato da melhor forma a língua de Camões. Por isso espero que não fiquem muito ofendidos se aqui e ali forem surgindo umas calinadas, mas segundo a sabedoria popular errar é humano e prometo que vou ter atenção e melhorar a cada artigo publicado. Feita a necessária ressalva vamos ao que interessa.

Como é habitual no início de um novo ano, todos fazemos as famosas resoluções, a mais famosa de todas “este ano vou para o ginásio e vou ficar com six pack impecável” e como todos sabemos é logo abandonada ainda nem a primeira semana do ano acabou. A minha resolução no entanto foi diferente, certamente não será exclusiva minha, comprar um carro em 2018! Reparem que não disse um carro novo, disse “um carro”.

Devo confessar que já algum tempo que ando com a questão de “será que vale mesmo a pena comprar um carro novo? Ou perco tempo e vou procurar um bom carro da década 80 princípios da década de 90? (não vou esmiuçar o termo bom carro, pois por si só já dá um artigo, vamos abreviar caminho e caracteres e mais a frente já perceberão o que entendo por um bom carro.)

Convém contextualizar, que um fator sempre importante na compra de um carro é o seu preço. Quando falo num carro novo, penso num do segmento B, como o Mégane (tinha que ser), i30 ou até mesmo o Focus, que dificilmente fogem da casa dos 25 mil euros. Por seu lado, o carro que tenho em mente como alternativa, encontra-se no mercado de usados entre 5 e 10 mil euros, dependendo do seu estado como é lógico. O restante dinheiro que supostamente poupo acho que será bastante útil tanto para gasolina como para eventuais imprevistos.

O facto de ultimamente ter conduzido carros acabados de serem lançados para o mercado só fez aumentar pontos de interrogação à minha pergunta. É inegável que os carros recentes, não precisamos de ir para exemplos de topo como Audi A8 ou Mercedes Classe S, são construídos com muito mas cuidado, vêm carregados de equipamento, novas tecnologias, são mais seguros, económicos e até mais rápidos quando comparados com os mesmos modelos de duas décadas ou até de uma década atrás.

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No entanto, com essa evolução não posso deixar de sentir que algo se vai perdendo pelo caminho, talvez seja a simplicidade, característica desvalorizada muita das vezes. Se há adjetivo que melhor pode classificar os novos automóveis é o oposto de simplicidade, ou seja, a complexidade. Alguns exemplos disso são os sistemas de infotainment, ou vá, computadores que cada vez ocupam mais espaço na consola central (que leva ao desaparecimento dos tradicionais botões – que falta fazem) e controlam, a cada nova geração, mais funções, desde o radio à climatização. Depois temos ao nosso dispor diferentes parâmetros da própria condução como os famosos modos eco, sport e por aí fora e para citar apenas mais um exemplo, as ajudas à condução (aqueles sons irritantes) como o lane assist, radar de colisão, de peões e até cruise control adaptativo. E toda a gente diz que grande parte destas coisas são indispensáveis nos dias em que vivemos, mas serão mesmo?
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Já sei o que grande parte de vocês está a pensar, “mais um gajo saudosista que não aceita os novos tempos”, mas acreditem que não é isso, vá talvez seja um pouco, a verdade é que ao conduzir um carro novo sinceramente não sinto “uma ligação”, sim a grande parte são mais do que competentes para aquilo que foram projetados, mas parece que saem todos da mesma linha de produção sem qualquer tipo de alma.

A esta altura já devem estar a dizer das duas uma: “nunca li tanta asneira junta na minha vida, vou mas é bazar daqui” ou por outro lado, menos provável, “já que li até aqui, vamos lá ver no que isto vai dar”.
Bem, se foi um dos bravos que optou por continuar deve-se lembrar que anteriormente tinha falado num bom carro da década de 80 ou inícios da década 90 como alternativa. Neste momento um carro que me enche as medidas sem duvida é o BMW Serie 5 E28, e sendo minimamente realista nem falo na rara e caríssima versão M5, um 525i era mais do que suficiente. Aqui vou ter que fazer mais uma nota, pois sei que um serie 5 E28 está mais para um clássico do que para uma alternativa a um carro novo para o dia a dia, mas como todos sabem, e certamente já passaram pelo mesmo, o coração tem motivos que a razão e bom senso desconhecem.
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A pureza das linhas, o baixo peso e sobretudo a simplicidade aliada a uma elevada qualidade de construção fascina-me. Nada como um volante, três pedais e uma caixa de velocidades, sem distrações na consola central, nem barulhos irritantes, mas sim o cantar sereno de um 6 cilindros em linha simples e fiável, quando tratado devidamente.

 
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Eu tinha muito mais para dizer, mas agora o meu pensamento está com aquele 525i numa estrada de montanha num domingo de manhã em que apenas se conduz pelo simples prazer de conduzir. Eu mais aquele BMW, em que tudo acontece de forma tão natural, real e em que a sensação de conduzir não é filtrada e consequentemente perdida, como acontece tantas vezes hoje. A melhor parte é que suspeito que qualquer viagem, até mesmo após um dia de trabalho chato e desgastante, seria sempre algo de especial com um sorriso no rosto.

Por fim, finalmente tenho uma resposta à minha grande dúvida que deu origem a toda esta dissertação: Tudo o que quero e preciso, pelo menos agora, é um carro analógico nesta era cada vez mais digital.

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